Duas mães, dois pais, meio-irmão, enteados, filhos legítimos e
adotivos. Esses são só alguns dos possíveis arranjos que configuram a família
contemporânea. Os tempos de só “papai, mamãe, titia” parecem ter ficado na
letra dos Titãs. Entretanto, ainda há muito que se discutir para que, de fato,
essa nova configuração seja reconhecida e retrate a nova instituição familiar
brasileira.
Apesar das visíveis mudanças, o conservadorismo ainda é latente
na sociedade civil. Por trás do famoso discurso “respeito, mas não acho
normal”, perpetua-se o preconceito. Recentemente, a Câmara dos Deputados
ressuscitou um polêmico projeto denominado “Estatuto da Família”, que legitima
apenas a união entre homem e mulher. Uma enquete do portal da Câmara mostrou
que 53% das pessoas concordam com essa definição. Embora muito já se tenha
conquistado, para uma parcela representativa da população, o modelo tradicional
é o que representa a família brasileira.
Essa visão engessada do modelo familiar colabora com o
crescimento da intolerância. Crianças que têm famílias fora do “convencional”
costumam sofrer com o preconceito. Frequentemente, são noticiados casos de
agressões a filhos de casais gays. A história mais recente teve um final
trágico: a morte de um menino de 14 anos, filho adotivo de um casal
homo afetivo. Os adolescentes que o agrediram são o reflexo de uma sociedade que
ainda não aceita o diferente e acha que preconceito é questão de opinião.
Além disso, devem-se considerar, também, as demais estruturas
familiares. Antigamente, a mulher divorciada estava fadada à solidão, pois não
era aceita socialmente. Hoje, há inúmeros casos de mulheres que são chefes de
família, solteiras e mães independentes. Apesar de sofrerem menos com o
preconceito, elas ainda encaram desafios diários. No âmbito jurídico, muitas
conquistas já foram alcançadas, mas, culturalmente, ainda há um longo caminho a
percorrer para que o patriarcalismo institucionalizado dê espaço à pluralidade
da nova representação familiar.
Por tudo isso, fica claro que ainda há muito que avançar nas
discussões sobre a representatividade da instituição familiar. A luta é
pedagógica. Por isso, o debate precisa se estender aos mais variados ambientes
sociais. A escola, enquanto instituição socializadora, é responsável por
naturalizar essa nova face, promovendo o respeito e a integração. O governo,
por sua vez, precisa criar meios eficazes de punição aos casos de intolerância.
Enquanto essas novas configurações continuarem a ser ocultadas, nunca serão
representadas. Porque família não é tudo igual, o que muda é muito mais que o
endereço.
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