O cão e a árvore também são inacabados, mas o homem se sabe
inacabado e por isso se educa. Não haveria educação se o homem fosse um ser
acabado. O homem pergunta-se: quem sou? de onde venho? onde posso estar? O
homem pode refletir sobre si mesmo e colocar-se num determinado momento, numa
certa realidade: é um ser na busca constante de ser mais e, como pode fazer
esta autorreflexão, pode descobrir-se como um ser inacabado, que está em
constante busca. Eis aqui a raiz da educação. A educação é uma resposta da
finitude da infinitude.
A educação é possível para o homem, porque este é inacabado e
sabe-se inacabado. Isto leva-o à sua perfeição. A educação, portanto, implica
uma busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser o sujeito de
sua própria educação. Não pode ser o objeto dela. Por isso, ninguém educa
ninguém. Sem dúvida, ninguém pode buscar na exclusividade, individualmente.
Esta busca solitária poderia traduzir-se em um ter mais, que é uma forma de ser
menos. Essa busca deve ser feita com outros seres que também procuram ser mais
e em comunhão com outras “consciências”. Jaspers disse: “Eu sou na medida em
que os outros também são”.
Freire, P. Educação e mudança.
12. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p.14 (adaptado).
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