quinta-feira, 9 de maio de 2013

Escolhas de uma vida




Escolhas de uma vida
A certa altura do filme Crimes e Pecados, o personagem interpretado por Woody Allen diz: "Nós somos a soma das nossas decisões".

Essa frase acomodou-se na minha massa cinzenta e de lá nunca mais saiu. Compartilho do ceticismo de Allen: a gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso.

Desde pequenos aprendemos que, ao fazer uma opção,estamos descartando outra, e de opção em opção vamos tecendo essa teia que se convencionou chamar "minha vida".

Não é tarefa fácil. No momento em que se escolhe ser médico, se está abrindo mão de ser piloto de avião. Ao optar pela vida de atriz, será quase impossível conciliar com a arquitetura. No amor, a mesma coisa: namora-se um, outro, e mais outro, num excitante vaivém de romances. Até que chega um momento em que é preciso decidir entre passar o resto da vida sem compromisso formal com alguém, apenas vivenciando amores e deixando-os ir embora quando se findam, ou casar, e através do casamento fundar uma microempresa, com direito a casa própria, orçamento doméstico e responsabilidades.

As duas opções têm seus prós e contras: viver sem laços e viver com laços...

Escolha: beber até cair ou virar vegetariano e budista? Todas as alternativas são válidas, mas há um preço a pagar por elas.

Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses, ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana, ter filhos quando se está bem-disposto e não tê-los quando se está cansado. Por isso é tão importante o auto conhecimento. Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho: Ninguém é o mesmo para sempre.

Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar, e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido. A estrada é longa e o tempo é curto.Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as conseqüências destas ações.

Lembrem-se: suas escolhas têm 50% de chance de darem certo, mas também 50% de chance de darem errado. A escolha é sua...!

Por que essa pressa?

 

 

Por que essa pressa?

                                     Walcyr Carrasco


 Ando surpreso. De uns tempos para cá, as pessoas parecem estar perdendo a noção de fila. Para embarcar no aeroporto, nem se diga! Assim que o vôo é chamado, sempre há um grupo de passageiros que se amontoa em frente à entrada. Crianças, idosos e deficientes têm preferência no embarque. Poucos conseguem chegar na frente. Dia desses, no Aeroporto de Congonhas, ajudei uma senhora com duas crianças a evitar que os pimpolhos fossem atropelados pelos outros passageiros. Ela, que tinha preferência, ficou por último! Detalhe: os lugares são marcados previamente. Por que a pressa?
        Imagino como sofre o caixa de um bar, tendo de atender várias pessoas que gritam ao mesmo tempo. Em metrô, é um sufoco. O correto seria esperar que saia quem vai desembarcar. Tentei fazer isso no horário de pico. Fui empurrado, levei uma cotovelada na orelha e ainda me xingaram! Uma loucura! Quem quer sair empurra, quem quer entrar empurra mais!
        Até entre os elegantes, reina a confusão! Fui a uma festa. Serviram o jantar em um bufê, com comida farta, de dar água na boca. Os mais educadinhos foram se   servindo em fila. Dali a pouco entrou uma perua no meio, estendendo as unhas pintadas:
        – Deixa eu pegar só uma saladinha!
        Pronto! Outro voou para o prato quente, furando todo mundo. A fila parou. Dois ou três aproveitaram a deixa para se servir, espetando quem estava na frente com os garfos.
        – Ah, desculpe... É que eu ia pegar aquela batatinha... – avisou um.
        – É só um segundo... Já saio – disse outro, erguendo a faca para garantir espaço.
        Quando chego a um restaurante e avisam que tem espera, vou embora. Ninguém respeita ordem de chegada. A começar dos maîtres, que dão preferência a clientes fiéis, conhecidos... seja lá quem for. É justo que um cliente tenha suas vantagens. Mas, então, por que não reservar a mesa com antecedência? Nem vou citar nome de restaurante, já que a maioria é assim. Depois de esperar meia hora, sempre vejo alguém entrar e acomodar-se imediatamente. Se reclamo, a resposta é sempre a mesma:
        – Eles já estavam esperando faz tempo, o senhor se enganou.
        Que raiva! Até perco o apetite. E olha que para eu perder o apetite não é fácil, não!
        Elevador, então, nem se fala. No Shopping Higienópolis, são demoradíssimos. Outro dia, estava subindo quando parou em um andar. Uma jovem com um carrinho de bebê esperava.
        – Está lotado – avisaram.
        – É o terceiro que passa, e não consigo entrar – reclamou a moça.
        Os passageiros ergueram os queixos, como se não fosse com eles. Alguém supunha que ela fosse descer com o carrinho em escada rolante? Ela enfiou o carrinho. Todos se apertaram, incomodados, como se o bebê fosse o estorvo. Fiquei no fundo. Quando cheguei ao meu andar, avisei:
        – Preciso descer.
        Ninguém se mexeu. Fui até a saída. Pisei no pé de uma mocinha, que gritou ofendida. Dei uma cotovelada em um gorducho que estava parado em frente à porta, sem mexer as banhas. Aliviado, botei o pé para fora! Elevadores, aliás, transformaram-se num purgatório. Não é inferno porque um dia a gente sai. Os espaçosos espremem os mais corteses. Nunca falta quem use um perfume fortíssimo, desses de deixar a cabeça tonta. Tudo seria passável se ao menos fosse possível entrar e sair de um elevador cheio sem passar por cenas de pugilato. Mesmo porque, como nos metrôs, quem vai entrar nunca deixa os outros desembarcar!
        É impossível que todo mundo tenha sempre tanta pressa. Minha impressão é que, com o stress da vida moderna, as pessoas andam esquecendo as regras mínimas do bem viver.

Menino dos Olhos Paião

 

          Menino dos Olhos Paião

                                          
Luciana


Às vezes ficamos nos perguntando como viemos parar nesse mundo, ou por que viemos parar aqui.

Eu particularmente sempre tive esse enigma na minha mente, na minha alma e até refletido em meus olhos como se  estivesse prestes a indagar a qualquer olhar que cruzasse com o meu: Por que viemos parar aqui?!

Será que nós, seres humanos, somos capacitados para amar?

Talvez esse olhar teria a resposta cabal para as minhas tão inquietantes dúvidas ou quem sabe, ele mesmo seria a resposta cabal. Por conta desse costume tornei-me uma fiel colecionadora de olhares.

As minhas dúvidas cessaram no dia vinte e quatro e outubro de 2003, aquele olhar é o meu favorito e o motivo por muitas noites em claro tentando decifrar o que ele tinha de diferente dos demais que eu tenho em minha coleção. Esse eu não arquivei, guardei-o com uma dedicação ardente em um baú que muitos chamam de CORAÇÃO.

Até então não acreditava em amor à primeira vista, era uma pessoa um tanto quanto cética. A vida muitas vezes nos torna de ferro, como se tivéssemos um antídoto a qualquer sentimento que a nossa razão não pode compreender, aí simplesmente nos fechamos ou então tentamos “racionalizar nossos sentimentos”, fazendo-o perder toda a magia e encanto que ele traz consigo.

Mas para o sentimento que aquele olhar me transmitiu ainda não inventaram o antídoto. Até tentaram, mas não conseguiram, pois aqueles olhos cor de mel com faíscas verdes trasbordavam amor e doçura e me passavam uma paz inefável.

Eu procurei alguma coisa parecida em todos os olhares que tenho colecionado em meus arquivos, mas não achei nada parecido. Fiquei atônita, pois ele respondia todas as indagações que eu já havia feito a todos olhares colecionados.

Eu ainda não consegui arquivá-lo, pois durmo pensando no dono dos olhos cor de mel, e acordo pensando no mesmo, porque ele me mostrou o que eu vim fazer neste mundo, do que seria de nós sem o amor.

Você gostaria de viver neste mundo se o amor não existisse?

Muitas pessoas demoram a encontrar o “amor da sua vida” eu o encontrei com quatorze anos... Um pouco nova? Digamos que o bastante para fazer muitas burradas a ponto de magoar o dono dos olhos cor de mel. Hoje meus olhos dançam na cidade à procura deles, mas dificilmente o acho. Apenas um momento, algumas horas juntos, e você me ensinou um sentimento transcendental: O AMOR.

Eu nunca desistirei do dono dos olhos cor de mel, porque eu sentiria saudades dele, mesmo se eu não o conhecesse, porque quando eu o vejo eu fico quente, e minhas pernas ficam bambas, porque ele é um ser humano maravilhoso e tem o sorriso mais encantador desse mundo, o olhar mais doce, porque eu quero que ele seja o primeiro homem da minha vida, e principalmente porque ele fez nascer em mim o sentimento mais belo do mundo.

A maioria das pessoas vive à mercê do tempo na rotina e na monotonia, como se elas tivessem todos os dias do mundo para viver! Infelizmente não é assim, estamos nesse mundo por tempo indeterminado, mas ao mesmo tempo determinado até demais, tudo isso é tirado de nós muito rápido e sem aviso prévio, por isso nunca desista da pessoa por quem seus olhos dançam pela cidade, nunca é tarde para amar e ser amado.

“PARA OS ERROS HÁ O PERDÃO, PARA O FRACASSO UMA NOVA CHANCE E PARA OS AMORES IMPOSSÍVEIS O TEMPO. NÃO DEIXE QUE A SAUDADE SUFOQUE, QUE A ROTINA INCOMODE E QUE O MEDO O IMPEÇA DE TENTAR”.

 
 


 
O maior de todos os presentes
Al. Fabiano de Oliveira dos Santos Matias (SGS/2010)

Era noite. A chuva que caía não dava trégua e se lançava sobre nossa casa torrencialmente. Como sempre acontece em noites de tempestade, a energia acabou. Eu, criança ainda, só poderia estar nervoso e muito assustado; e as estranhas formas tremulantes que o brilho das velas formava nas paredes simplesmente pioravam tudo, o que me levava a perguntar a todo instante:
Pai, quando a luz vai voltar?
Em breve, meu filho — dizia meu pai, puxando-me para perto de si. — Logo, logo a chuva vai diminuir, e a luz vai acabar voltando. Tem que ter paciência.
Eu queria que a mamãe estivesse aqui — eu gemi.
Sim, filho; eu sei. Eu também gostaria muito. Mas, de alguma forma, ela está aqui conosco. Temos de ser pacientes.
Meu pai ficara viúvo muito cedo. Eu não conheci minha mãe, e era ele quem tinha de fazer os dois papéis; ele era muito cuidadoso comigo. Foi por ver minha aflição é que hoje eu tenho certeza de que ele fez o que fez.
Deixando-me sozinho por uns instantes, foi até o quarto e voltou de lá com algo na mão. Reconheci logo o pequeno objeto: era uma caixa de madeira escura que ele mantinha em sua escrivaninha. Eu tinha curiosidade em saber o que havia ali dentro, pois ele já havia me falado que fora vovô quem lhe presenteara com ela ainda em sua mocidade.
O tempo passa rápido, não é, filho? — ele perguntou.
Passa, papai; que nem flecha, né?
Pois é. Hoje você já está com dez anos e já é quase um homem, não é?
Sim, papai.
Pois, então, é hora de lhe passar esse presente.
Naquele momento, ele me entregou a caixa de madeira. Eu já não me agüentava de curiosidade e já ia abri-la, quando ele me fez jurar que eu jamais a abriria sem o seu consentimento. Mesmo contrariado, eu sabia que tinha de obedecer. A luz ainda demorou algum tempo para voltar, mas, de alguma forma, meu medo desapareceu.
Vinte anos se passaram. A misteriosa caixa se manteve em meu poder. Sempre que eu passava por uma situação difícil na escola, no trabalho, em minha vida conjugal, eu me recordava daquela noite de tempestade com papai. A doença de meu filho caçula foi o pior de todos os momentos. Os médicos só diziam que eu devia ter paciência que o tratamento demoraria e que mesmo assim o resultado era incerto. Tive de ter um autocontrole que eu não conhecia em mim. Meu pai acompanhou tudo de perto. Até que um dia, finalmente, meu filho recebeu alta do tratamento. Nesse dia meu pai, estando em nossa casa para nos felicitar pela melhora, me pediu:
Filho, você ainda tem aquela caixa?
Sim, papai.
Pode apanhá-la, por favor?
Corri até o segundo andar da casa e voltei como uma flecha para a sala. Ele me disse:
Agora você já pode abrir.
Nervoso, eu atendi ao seu comando. Fiquei atordoado por alguns segundos. O silêncio que se formou então só foi quebrado por uma brejeira gargalhada dele, seguida de um abraço forte e carinhoso.
Foi a mesma cara que eu fiz quando seu avô me mandou abrir esse negócio. Esse é o maior tesouro de um homem. E, hoje, vejo que esse homem está bem na minha frente!
Aquela velha caixa não possuía nenhuma pedra preciosa, nenhum objeto valioso. Na verdade, ela estava vazia. Mas através dela percebi que já havia ganhado o meu maior presente: o autocontrole de saber aguardar pelo momento certo; a paciência do saber esperar.

Minha tia xereta e a nova vizinha

Minha tia xereta e a nova vizinha
Al. Douglas Gautério Gonçalves da Silva (BEP/2010)

Eu morava com minha tia em um condomínio muito pacato, desses nos quais todos os vizinhos se conhecem e sabem da vida uns dos outros. Um dia surgiu ali uma pessoa que, por seu comportamento, acabou destoando dessa característica local.

Era a nova vizinha; e era muito, muito bonita. Vivia só e não gastava conversa com ninguém dali. Mas, todas as noites, havia um entra-e-sai esquisito de rapazes muito alinhados de seu apartamento. Minha tia Adelaide, muito puritana e fiscal da vida alheia, resolveu xeretar.

A rotina era sempre a mesma: por volta das vinte horas, iniciava-se a chegada dos rapazes. Em seguida, luzes começavam a piscar de forma irregular, pessoas conversavam e faziam todo tipo de barulho. Minha tia, de sua janela, ia ficando cada dia mais intrigada.

Eles chegam de noite, fazem a baderna deles e, lá pelas vinte e três horas, saem, dizendo estarem cansados, que é cansativo, mas que vale a pena... Alguns chegam a sair ajustando as roupas! Que pouca vergonha!

Duas semanas foi o tempo que minha tia levou para tomar coragem e ligar para a polícia, solicitando uma intervenção.

Tem um apartamento muito suspeito aqui e está incomodando a todos.

Na verdade, era apenas titia quem estava se sentindo incomodada.

Por favor, façam logo alguma coisa! Aquilo lá mais parece um bordel!

Pois não, madame. Estamos enviando uma viatura para aí agora mesmo. Mas antes a senhora, por gentileza, me passe os seus dados.

Menos de dez minutos depois, minha tia, debruçada em seu observatório, a janela, acompanha excitada a chegada da polícia.

Vianinha! — Vianinha era eu. — Vianinha, corre aqui, meu filho! Venha ver, que agora é que vão pegar a sirigaita!

Fui até onde ela se encontrava. Dali pudemos acompanhar o desembarque de dois policiais que se encaminharam para o edifício. Poucos minutos depois, os dois deixaram o prédio e atravessaram serenamente a rua, em direção à portaria de nosso bloco. A campainha tocou, e minha tia, como uma adolescente descontrolada, correu para abrir a porta. 

Boa noite, senhora — cumprimentou um dos policiais. — A senhora é a Dona Adelaide?

Sim, sou eu mesma — empertigou-se titia.

Os dois policiais se entreolharam. Depois um deles, com expressão grave, disse:

Parabéns! A senhora acaba de nos fornecer um flagrante...

Minha tia, não aguentando mais de expectativa, o interrompeu:

E então? Fale logo! Vão levar a prostituta?

Como eu ia dizendo, a senhora nos forneceu um flagrante. Um flagrante de um estúdio fotográfico de modelos. A moça, na verdade, estuda moda à tarde e, durante a noite, tira fotografias de modelos masculinos. Se a senhora continuar achando isso vergonhoso ou algo assim, pode ligar; não para a polícia, mas para um psicólogo. No mais, faça-nos um grande favor, sim? Deixe a moça trabalhar em paz.

Pena que por perto não havia nenhum balde para eu enfiar a minha cabeça.


Cuidado com o que desejas

Cuidado com o que se deseja
Ex-aluna do CFS

Pedro era um garoto muito arrogante; sempre reclamava de tudo e queria que as coisas fossem feitas a sua maneira. Queria que todos ao seu redor fossem condescendentes com seus caprichos e, quando as coisas não saíam ao seu contento, tinha ataques tão terríveis, que muitas vezes seus vizinhos pensaram em chamar a polícia para contê-lo.Um belo fim de tarde, logo depois da escola, Pedro estava caminhando pela rua quando se deparou com uma garrafa de formato anormal em cima do meio-fio; abaixou-se, pegou-a e, como era afobado, em vez de admirar o peculiar acabamento da garrafa, começou a sacudi-la para ver se havia algo dentro. Porque não ouviu nenhum som, concluiu que deveria estar vazia. Quando estava prestes a jogá-la fora, percebeu ranhuras no casco, que era feito de vidro fosco, e levantou a garrafa contra a luz. Forçando a vista, percebeu alguns sinais que aos poucos foram se convertendo em letras. Pôde ler então a mensagem: “Abra-me!”.

O menino, convencido de que se tratava de uma brincadeira, decidiu não obedecer ao comando de uma estúpida garrafa. Ainda com o objeto na mão, caminhou mais um quarteirão e estacou no meio do caminho. A curiosidade ainda persistia. Escondeu-se atrás de um muro, olhou para todos os lados e, quando se convenceu de que estava sozinho, abriu a garrafa.

De dentro dela, saiu uma fumaça rosada que, ao se dissipar, revelou uma estranha criatura encantada que lhe disse que ele teria direito a um desejo; apenas um desejo. Pedro, muito esperto, soube instantaneamente o que desejaria.

— Se é assim, quero ter o dom de poder realizar todos os meus desejos, bastando para isso apontar simplesmente o meu dedo.

— Que assim seja, mestre! — disse a criatura com um sorriso irônico, desaparecendo logo em seguida.

Pedro correu para casa, doido para começar a realizar seus desejos, agora que possuía esse fantástico poder.

Ao dobrar uma esquina, deu um encontrão em uma menina. Refazendo-se do susto, ele viu que não era apenas uma menina; era simplesmente a menina mais cobiçada do bairro, a mais linda da região, pela qual Pedro era apaixonado.

— Agora vou me dar bem! — maquinou o menino, murmurando para si.

Pedro, discretamente, apontou o dedo para a menina e, baixinho, disse:

— Apaixone-se por mim.

A bela menina, como se estivesse em transe hipnótico, lançou sobre Pedro um olhar de malícia e gemeu docemente:

— Ai, meu Deus! Que gato!

O menino, apesar de ter sido atendido em seu desejo, mas ainda surpreso com o efeito que presenciava, encabulado, apontou o dedo para si mesmo e disse:

— Gato? Eu?

A partir desse dia, a bela menina, quando andava pelas ruas dali, era perseguida e assediada por um gatinho branco e fofo, sempre a miar e a ronronar em volta de suas pernas. E Pedro, menino caprichoso e malcriado, para estranheza de toda a vizinhança, nunca mais foi visto.



terça-feira, 7 de maio de 2013







A APARIÇÃO
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Jaci amava sua esposa mais do que qualquer coisa no mundo. Então, no parto da filha, sua amada esposa morreu. Jaci caiu aos pedaços e passou a odiar a criança - uma menina chamada Maria. Ele negligenciava-a, vestia-a em trapos. Apesar deste tratamento cruel, Maria se tornou uma doce garota que amava o pai perverso.
Quando Maria atingiu a idade adulta, a semelhança com a mãe morta era impressionante. Jaci via sua esposa morta a cada vez que olhava para a filha. Uma noite, depois de beber muito, Jaci arrastou Maria para o quarto e a esfaqueou repetidamente. Maria tentou lutar contra o pai demoníaco, mas foi em vão. O sangue jorrou dos pedaços de carne rasgada. Quando ela estava morta, Jaci, indiferente, a levou para o jardim da casa, cavou uma cova e jogou o corpo de Maria nele.
Duas noites mais tarde, quando Jaci foi fazer sua janta encontrou Maria de pé na cozinha; uma poça de sangue jazia sob seus pés, e pedaços da pele do rosto cortados pela faca, caiam no chão.
— Paaaaaai...! – exclamou Maria.
Jaci gritou e correu para fora da cozinha. Quando ele olhou por cima do ombro, a aparição já tinha ido.
Uma semana depois, lia o jornal quando, de repente, viu Maria sentada na cadeira em frente à dele. Seu vestido coberto de sangue. Suas mãos estavam ocupadas, tricotava uma camisa.
— Paaaaaai...! - exclamou novamente Maria.
Então ela voou em direção a ele, e com as agulhas de tricô como facas, feriu o pai com dois cortes profundos nas costas. Jaci fugiu da sala em pânico e, com medo, escondeu-se no sótão da casa por vários dias. O sótão era um quarto pequenino e baixo, com o ar saturado. Depois de quase uma semana de dormir mal e comer alimentos frios, ele decidiu que era seguro voltar para a sua casa.
Jaci ansioso para fazer a barba foi até o banheiro. Quando ele olhou no espelho, viu os olhos vermelhos de Maria. Ela sorriu maldosamente e sussurrou: "Paaaaaai..., levantando os dedos manchados de sangue". Suas unhas eram longas e afiadas como as garras de uma onça; deu duas tapas no rosto de seu pai. Jaci com o rosto sangrando, gritou e fugiu para a segurança do sótão.
No sótão uma voz sussurrou suavemente a alguns passos à sua direita. "Paaaaaai...". Maria sorrindo para ele, apontou acima de sua cabeça, e Jaci viu um laço pendurado do teto ao lado da escada para o sótão. Obediente, Jaci colocou suas mãos no degrau da escada e começou a subir...