terça-feira, 18 de setembro de 2018

Revolução das Baratas

o dia em que a barata Gene viu sua mãe ser brutalmente assassinada por um chinelo, decidiu que era hora da revolução começar

Havia décadas que as baratas pensavam em realizar um grande levante. Estavam cansadas do ódio peculiar que os seres humanos sentiam por elas, figurando como o inseto mais repulsivo do planeta Terra.
Injustiçadas, odiadas, temidas. Mal podiam surgir em um ambiente, e o pânico se instalava por completo. Fêmeas e machos subindo aos gritos em cadeiras. Mas sempre havia 2 ou 3 algozes, psicopatas, empunhando chinelos e listas telefônicas, olhos vermelhos injetados, a boca espumando, ansiosos pela carnificina. E se as baratas não fossem rápidas o suficiente, jazeriam mortas, as patas para cima. Seu poderoso casco de quitina não seria forte o bastante para lhes salvar a vida.
E Gene era a líder da revolução baratística. Tinha uma inteligência incrível, uma memória invejável e uma estratégica mente militar. O assassinato da mãe diante dos seus olhos, alguns meses antes, fizera despertar o que lhe faltava para liderar a revolução: o ódio. O plano estava parcialmente definido, mas era preciso esperar o momento certo.
Sua melhor amiga, Salete, sempre se postava como a temerosa:
– Mas estamos realmente prontas?
– Nunca antes estivemos tão prontas. – A voz de Gene trepidava com sua raiva incontida. – Em breve, teremos nossa vingança. Os humanos pagarão cada gota de hemolinfa derramada.
– Não sei, não. Tem coisa errada, Gene. Os números não batem.
– Como assim?
Salete mostrou um esboço.
– Em nosso último censo militar, ficou constatado que somos 85 baratas para cada humano. Agora, pense comigo: a maioria dos humanos não tem mais do que dois ou três filhotes. E muitas das fêmeas deles nem se reproduzem. Mas nossas fêmeas, em apenas 150 dias, chegam botar 320 ovos. A proporção não bate, Gene. Deveríamos ser milhares ou milhões de baratas para cada humano. Onde estão as outras?
– Você não sabe onde elas estão?
– Não.
– Estão mortas, Salete – arrematou, séria. – A diferença na sua estatística é o número de irmãs assassinadas injustamente. Sentenciadas à morte por chineladas e sufocamento venenoso, enquanto os algozes gritam “nojenta”, “maldita”, “desgraçada”.
Houve um silêncio entre as duas amigas.
A verdade calou qualquer argumento.
___
Revolução das baratasNaquele mesmo dia, uma notícia se espalhou entre as baratas. Ninguém sabe como, mas as baratas tomaram conhecimento de que, no próximo mês, os humanos em todo o planeta dormiriam durante uma hora, simultaneamente. Era a oportunidade que Gene tanto esperava.
Salete desconfiou:
– Como assim?
– É a nossa chance, Salete.
– Por que os humanos vão dormir todos ao mesmo tempo?
– Você deveria estar me perguntando sobre nossa estratégia de ataque.
– É só que me parece estranho.
– Faremos um ataque simultâneo, em todo o mundo. Atacaremos os humanos enquanto estiverem dormindo.
– Vamos comê-los?
– Não, minha querida. Pelo menos, não enquanto estiverem vivos. Isso os acordaria.
– Então, o que vamos fazer?
– Vamos sufocá-los.
– Como?
– Vamos entrar em suas bocas, e invadir suas vias respiratórias.
– Mas…
– Um ataque em massa. Dezenas de baratas saltando sobre a boca de cada humano. Eles não terão chance de qualquer reação.
– Isso significa que…?
– Sim. Algumas terão de se sacrificar. Mas seus nomes ficarão registrados na história. Figurarão na literatura como as baratas que conquistaram a liberdade para suas filhas e irmãs.
O plano estava traçado. Gene enviou baratas mensageiras para que avisassem cada um dos exércitos alocados em despensas, esgotos, sótãos, porões, e até nas matas. As baratas em todo o planeta precisavam saber. Todas elas deveriam sair dos seus esconderijos e lutar pela liberdade. A história propagada pelos humanos de que, para cada barata avistada existem mil escondidas, mudaria. Naquela noite, os humanos veriam todas elas, mas desta vez, seriam elas a ter os olhos injetados, e a boca espumando de ódio.
E exatamente um mês depois, a guerra teve início.
Gene saiu pelo ralo do banheiro seguida por seu posto avançado de 249 baratas. Era meia-noite. Encaminharam-se lentamente para os quartos dos humanos, ansiosas pelo ataque final. Em questão de menos de uma hora, a raça humana estaria extinta da face da Terra. Chinelos e inseticidas nunca mais seriam produzidos.
Gene ainda salivava de ódio, quando ouviu um estranho zumbido. Ergueu lentamente a cabeça. Logo acima, parcialmente camuflada pela escuridão, viu uma figura familiar: o general Tod, uma vespa-joia. Ele estava a frente do que pareciam 3 ou 4 centenas de vespas e marimbondos.
O coração de Gene saltou-lhe à boca. Seu cérebro começou a juntar as peças e tudo se encaixou. Salete tinha razão. O sono coletivo dos humanos não podia ser verdade. O boato havia sido um embuste criado pelas vespas, as maiores inimigas das baratas, depois dos humanos. Em um relance, Gene já podia ver seus corpos sendo arrastados para buracos e servindo de alimento para larvas de vespas.
Gene virou-se para seu exército e, quase sem voz, gritou:
– É uma cilada… Fujaaaaam!
Mas era tarde demais. Ao grito de comando do General Tod e dos outros milhares de generais vespas de emboscada em todo o mundo, o ataque histórico das vespas contras as baratas começou.
Vários anos depois, os jornais ainda noticiariam o misterioso desaparecimento de todas as baratas do planeta terra. A culpa, para todos os efeitos, recairia sobre o aquecimento global.

Em Terra de Cego quem tem um olho é o Josefino, filho do seu Aderbal, que mora lá no final da Vila Real





Em Terra de Cego quem tem um olho é o Josefino, filho do seu Aderbal, que mora lá no final da Vila Real

Desde criança, Josefino era a pessoa mais famosa e requisitada na Terra de Cego. Sendo o único habitante que tinha um olho, não havia uma só alma viva que não o procurasse em um momento ou outro da vida.
Em Terra de Cego, as festas eram rotina. Nestas ocasiões, as pessoas se produziam. Vestiam suas melhores roupas, caprichavam no penteado e maquiagem. Depois, corriam até o Josefino para perguntar o que ele achava. Isso para não falar nas inúmeras vezes em que o pequenino Josefino foi arrastado até as lojas e determinava se as roupas “caíam” bem nos clientes. Se ele dizia não, o vendedor tratava de tatear e trazer outra opção. O cliente só comprava as roupas quando Josefino dava seu ok.
Com o tempo, inteligência mais aguçada ao fincar os pés na adolescência, Josefino percebeu que podia tirar algum lucro com a habilidade. Começou a cobrar pela consultoria. Não dava uma única opinião se não lhe pagassem: seja em espécie ou favores. Acompanhava as pessoas em suas compras, sugeria decoração, opinava na construção de casas, armazéns e palácios. E foi assim que sua riqueza começou a crescer vertiginosamente, dia após dia, ano após ano.
Com a demanda sempre crescente, passou a cobrar exorbitâncias. Somente os homens e as mulheres mais ricos podiam lhe pagar. Em certo momento, os nobres passaram a lhe trazer pretendentes apaixonados para ver se eram belos o suficiente para lhes permitir casar com suas filhas. Se Josefino não elogiava a beleza do pretendente, lá se ia um rapaz aos prantos, desiludido e solitário.
Com a riqueza e poder extraordinários, Josefino construiu um castelo. Montou uma gigantesca guarda com mais de mil guerreiros. Passou a erigir monumentos em sua homenagem. E, finalmente, aos 25 anos, proclamou-se rei da Terra de Cego. A partir daí, passou a ser conhecido como Imperador Josefino I.
Certo dia, um viajante com dois olhos chegou a cidade. Ele tinha sido atraído pelas notícias de Josefino, de como tinha construído um império com apenas um olho. Se um olho fora capaz de tornar um homem imperador, dois olhos (deve ter suposto o viajante) tornariam-no em um deus.
No dia que o viajante chegou à cidade, e proclamou ser possuidor de dois olhos, todos foram ao seu encontro. Uma multidão de dezenas, centenas de pessoas. Contrário às suas expectativas, foi agarrado, levado à praça pública e linchado até a morte pelos moradores.
Sua morte foi muito rápida. Provavelmente, nem teve tempo de aprender a valiosa lição: Em terra de cego quem tem um olho é rei. Mas, quem tem dois é uma aberração.
                                  http://corrosiva.com.br/textos-engracados-para-ler-em-sala-de-aula/


O OTIMISTA E O PESSIMISTA







O OTIMISTA E O PESSIMISTA
Um barzinho qualquer. Uma conversa qualquer, aquela que melhor convir.
– Droga de vida!
– Por que isso, cara?
– Ah, essa porcaria toda.
– Mas que porcaria?
– Essa estrumação onde vivo.
– Esse papo de novo? Não tem nada de tão ruim em sua vida.
– Ah, não? Quer que eu enumere?
– Cara, acho que você só reclama por reclamar. Tipo, você se acostumou com isso, e parece se sentir seguro com esta situação.
– Eu não me acostumei a reclamar. Mas acho que me acostumei a sofrer.

– Então, enumere.
– Quê?
– Você falou sobre enumerar a porcaria toda. Enumere.
– Ah, essa droga toda.
– Que droga, cara?
– Essa vida, esse fedor.
– Você está sendo evasivo.
– Meus dias, meu passado, meu futuro.
– Ainda evasivo.
– O que quer que eu diga?
– Seja específico.
– Ah, você não quer que eu enumere, quer?
– Quero, sim.
– Ok, ok, animadão. Olhe ao redor. Olhe isso. Olhou?
– Aham.
– Agora, olhe para mim. O que está vendo?
– Hum… Meu melhor amigo. Um cara bacana, engraçado, culto…
– Cale a boca. Você me deprime com esse papo cara.
– Isso se chama elogio sincero.
– Elogio, elogio. As pessoas precisam de elogios para ter coragem de enfrentar o dia seguinte, isso sim. Tipo, um combustível. Esse papo todo, balela.
– O que quer que eu diga?
– Quero que enumere o que há de ruim em mim.
– Não, senhor. Não mude o rumo das coisas. Quem vai enumerar é você.
– Ok, ok… Vamos lá. Tá preparado?
– Claro.
– Não vá chorar.
– Tenho certeza que não.
– Como pode ter tanta certeza?
– Para de enrolar e fale logo.
– Ok, ok. Primeiro: – Ergueu o dedo indicador. – Meu passado. Desde criança… Assim, desde molequinho mesmo. Catarrento e tudo mais. – Parou. Um instante. Uma reflexão. –  Fala a verdade: você me acha mesmo um cara bacana?
– O mais bacana que conheço.
– E esse papo todo de ser engraçado…
– Não é papo. Quem te conhece, sabe disso.
Baixou o dedo indicador. Começou a rir.
– Já te contei sobre o que aprontei naquelas férias com a turma, ano passado.
– Não.
– Não mesmo? Cara, foi show…

http://corrosiva.com.br/textos-engracados-para-ler-em-sala-de-aula/


sábado, 18 de agosto de 2018

Trabalhar com alegria




Trabalhar com alegria
   
Havia uma fazenda onde os trabalhadores viviam tristes e isolados uns
dos outros. Eles estendiam suas roupas surradas no varal e alimentavam seus magros cães com o pouco que sobrava das refeições.
Todos que viviam ali trabalhavam na roça do senhor João, dono de muitas terras, que exigia trabalho duro, pagando muito pouco por isso.
Um dia, chegou ali um novo empregado, cujo apelido era Zé Alegria. Era um jovem agricultor em busca de trabalho.
Foi admitido e recebeu, como todos, uma velha casa onde iria morar enquanto trabalhasse ali.
O jovem, vendo aquela casa suja e abandonada, resolveu dar-lhe vida nova.
Cuidou da limpeza e, em suas horas vagas, lixou e pintou as paredes com cores alegres e brilhantes, além de plantar flores no jardim e nos vasos.
Aquela casa limpa e arrumada destacava-se das demais e chamava a atenção de todos que por ali passavam.
Ele sempre trabalhava alegre e feliz na fazenda, por isso tinha o apelido de Zé Alegria. Os outros trabalhadores lhe perguntavam: Como você consegue trabalhar feliz e sempre cantando com o pouco dinheiro que ganhamos?
 O jovem olhou para os amigos e disse: Bem, este trabalho hoje é tudo que eu tenho. Ao invés de blasfemar e reclamar, prefiro agradecer por ele. Quando aceitei trabalhar aqui, sabia das condições.
Não é justo que, agora que estou aqui, fique reclamando. Farei com capricho e amor aquilo que aceitei fazer.
Os outros, que acreditavam ser vítimas das circunstâncias, abandonados pelo destino, o olhavam admirados e comentavam entre si: Como ele pode pensar assim?
O entusiasmo do rapaz, em pouco tempo, chamou a atenção do fazendeiro, que passou a observá-lo à distância.
Um dia o sr. João pensou: Alguém que cuida com tanto carinho da casa que emprestei, cuidará com o mesmo capricho da minha fazenda.
Ele é o único aqui que pensa como eu. Estou velho e preciso de alguém que me ajude na administração da fazenda.
Num final de tarde, foi até a casa do rapaz e, após tomar um café bem quentinho, ofereceu ao jovem o cargo de administrador da fazenda.
O rapaz aceitou prontamente. Seus amigos agricultores novamente foram lhe perguntar:
O que faz com que algumas pessoas sejam bem sucedidas e outras não?
A resposta do jovem veio logo: Em minhas andanças, meus amigos, eu aprendi muito e o principal é que não somos vítimas do destino. Existe em nós a capacidade de realizar e dar vida nova a tudo que nos cerca. E isso depende de cada um. 


segunda-feira, 25 de junho de 2018

Os Grandes Indiferentes



Os Grandes Indiferentes
Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.

À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário.
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.

Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo de xadrez.

Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao refletir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.

Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.

Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Pra a efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predileto
Dos grandes indif'rentes.

Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida.
Os haveres tranqüilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.

Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.

Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranqüila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.

O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.

A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.

Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa 


O arriscar





O arriscar – Vinícius Vargas
Existe situações no qual nos confunde,
 nos balança, nos encanta.
As vezes estamos estruturados, estabilizados
 e jamais arriscariamos em algo que nao foi planejado.
Mas a vida nao teria graça se tudo fosse correto,
 concreto, sem aquele gostinho do incerto.
Aos olhos dos outros uma loucura, da minha mente 
uma aventura, no qual desafia minha estrutura.
Enquanto muitos nao faria, eu faço. Deixando 
pra trás todos os laços. Com medo de cair a cada passo.
E a loucura se torna coragem, com um tom de 
selvagem, um instinto sem nenhuma margem.
Se vai dar certo eu nao sei, so sei que arrisquei, 
sem ter medo se perdi ou se ganhei.
Eu jogo pra ganhar, nao sei perder sem lutar,
 enquanto muitos pensam eu quero jogar.
Sera que vale lutar por tudo isso? Assumir 
com si proprio um compromisso? De tentar apostar nisso?
Eu prefiro descobrir tentando, Como em um jogo
 eu estou apostando, a certeza so terei arriscando.
Arrisque!

Tarde de Maio





Tarde de Maio ( Carlos Drummonmd)
Como esses primitivos que carregam por toda parte o
maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh’alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza
sem fruto.
Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto e passa…
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.
Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.
E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.
Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens.


As Sete Faces


Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

           Carlos Drummond

 

domingo, 27 de maio de 2018

O Poder da Palavra



Punhais e armas de fogo deixam 
vestígios de sangue. 
Bombas abalam edifícios e ruas.
Venenos terminam sendo detectados.
Mas a palavra destruidora consegue
despertar o Mal sem deixar pistas.

Crianças são condicionadas durante anos pelos pais,
artistas são impiedosamente criticados, 
mulheres são sistematicamente massacradas
por comentários de seus maridos,
fiéis são mantidos longe da religião 
por aqueles que se julgam capazes 
de interpretar a voz de Deus.

Procure ver se você está utilizando esta arma.
Procure ver se estão utilizando esta arma em você.
E não permita nenhuma destas duas coisas.


(Paulo Coelho)

OS QUE FAZEM A DIFERENÇA!


                                                           OS QUE FAZEM A DIFERENÇA!
           
Conta-se que após um feriado prolongado, o professor entrou 
na sala da Universidade para dar sua aula, mas os alunos estavam
 ansiosos para contar as novidades aos colegas e a excitação era geral. 
Depois de tentar,educadamente, por várias vezes, conseguir a atenção 
dos alunos para a aula, o professor perdeu a paciência e disse: “Prestem atenção 
porque eu vou falar isso uma única vez”. Um silêncio carregado de culpa se 
instalou na sala e o professor continuou.”Desde que comecei a lecionar, e isso 
faz muitos anos, descobri que nós professores trabalhamos apenas 5% dos alunos 
de uma turma. Em todos esses anos observei que, de cada cem alunos apenas 
cinco fazem realmente alguma diferença no futuro. Apenas cinco se tornam 
profissionais brilhantes e contribuem de forma significativa para melhorar a
 qualidade de vida das pessoas. Os outros 95% servem apenas para fazer volume; 
são medíocres e passam pela vida sem deixar nada de útil.

O interessante é que esta porcentagem vale para todo o mundo.
 Se vocês prestarem atenção notarão que, de cem professores, 
apenas cinco são aqueles que fazem a diferença. De cem garçons, apenas
 cinco são excelentes; de cem motoristas de táxi, apenas cinco são verdadeiros
 profissionais; de 100 conhecidos, quando muito, 5 são verdadeiros
 amigos, fraternos e de absoluta confiança. E podemos generalizar 
ainda mais: de cem pessoas, apenas cinco são verdadeiramente especiais.


É uma pena não termos como separar estes 5% do resto, pois se
 isso fosse possível eu deixaria apenas os alunos especiais nesta
 sala e colocaria os demais para fora. Assim, então, teria o silêncio
 necessário para dar uma boa aula e dormiria tranqüilo, sabendo ter investido
 nos melhores. Mas,infelizmente não há como saber quais de vocês são estes 
alunos. Só o tempo é capaz de mostrar isso. Portanto, terei de me conformar
 e tentar dar uma aula para os alunos especiais, apesar da confusão que
 estará sendo feita pelo resto.

Claro que cada um de vocês sempre pode escolher a qual grupo pertencerá. Obrigado 
pela atenção e vamos à aula de hoje”. O silêncio se instalou na sala e o nível 
de atenção foi total. Afinal, nenhum dos alunos desejava fazer parte do “resto”, e 
sim, do grupo daqueles que realmente fazem a diferença. Mas, como bem lembrou 
o sábio professor, só o tempo dirá a que grupo cada um pertencerá. Só a atuação 
diária de cada pessoa a classificará, de fato, num ou noutro grupo.
Pense nisso! Se você deseja pertencer ao grupo dos que realmente fazem 
a diferença, procure ser especial em tudo o que faz. Desde um simples bilhete 
que escreve, às coisas mais importantes, faça com excelência. Seja fazendo 
uma faxina, atendendo um cliente, cuidando de uma criança ou de um 
idoso, limpando um jardim ou fazendo uma cirurgia, seja especial. Para ser
 alguém que faz a diferença, não importa o que você faz, mas como faz. Ou 
você faz tudo da melhor forma possível, ou fará parte do “resto”.

Pense nisso e seja alguém que faz a diferença… Alguém que com sua ação
 torna a vida das pessoas melhores.

(desconheço a autoria)

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Entre uma decepção e outra, que tal uma pausa para aprender?

Entre uma decepção e outra, que tal uma pausa para aprender?

Tem época na vida da gente que parece que os encontros 
'amorosos' são mais uma provocação do que uma oportunidade 
de se sentir satisfeito e feliz... Assim, vamos contabilizando 
decepções e desacreditando na possibi-lidade de viver
 uma experiência positiva e motivadora. Quando isso acontece, 
creio que o melhor seja parar. Uma pausa para aprender.
 Ou melhor, antes apreender. Perceber o que está 
acontecendo, quais são nossos verdadeiros desejos
 e quais tem sido nossas atitudes para torná-los concretos. 
Muitas vezes, fazendo uma análise mais justa e
desapegada, sem assumir nenhum papel, nem o
de vítima das armadilhas da vida, nem da sacanagem
 dos outros e nem o de culpado, como se tudo o
que fizéssemos estivesse definitivamente errado,
 terminamos descobrindo que há alguma incoerência
 nisso tudo. 
Só que para isso precisamos de tempo... e
principalmente de coragem para admitir limitações,
assumir pensamentos negativos e confiar mais
 na sabedoria da vida e seu ritmo. O que acontece,
 no entanto, é que a maioria de nós não quer esperar,
 não quer refletir. Tem apenas um único pensamento
 que alimentamos o tempo todo: quero namorar, quero ter alguém!!! 
Será que estar com alguém é o mesmo que
estar feliz? Pode ser que sim, mas pode ser que não...
 e se por qualquer motivo você não tem ficado com
 quem deseja, talvez seja o momento ideal para um
intervalo, tão útil entre uma decepção e outra... 
Tempo de se observar, de observar as pessoas
 e ouvir o que elas dizem. Tempo de aprender,
crescer, ter uma nova conduta, desenvolver uma nova
 postura. Aguardar até que a vida lhe mostre qual
é o melhor caminho a seguir... mas para ver, você
precisa estar atento... sem tanta ansiedade, sem tanto
 desespero para tentar fazer com que as coisas aconteçam
do jeito e na hora que você quer... 
E se nenhuma resposta vier, talvez signifique
 que você precisa ver e ouvir com o coração.
 Respeitar o silêncio. Aceitar a ausência
de quem você tanto deseja encontrar... Talvez
 não haja uma resposta e nem haja uma expli-cação. 
Às vezes, simplesmente não existem respostas
nem explicação. Apenas a vida. Apenas as
pessoas. Apenas o mundo. Apenas a dor e o amor.
 Apenas... E se insistirmos em não aceitar, em
 brigar, em nos rebelar, em nos revoltar...
conseguiremos tão somente mais dor...
e menos amor. Aceite que você não tem
o controle, que você não pode decidir
sozinho, que o universo tem seu
próprio ritmo. Faça o que está ao seu alcance;
faça a sua parte... e bem feito; da melhor
 maneira que puder... E o que não puder, entregue
 e espere... porque embora diga sabiamente a
música "quem sabe faz a hora, não espera acontecer",
 tem ocasiões nesta vida em que quem sabe espera
acontecer e respeita a hora de não fazer... até que
 um dia, o amor de repente acontece... porque
 seu coração estava exatamente onde deveria
 estar para ser encontrado! 

Por: Rosana Braga

Só por amor se justifica uma adoção



Adotar uma criança é um gesto de amor. E só por amor se justifica a adoção. Tem pessoas que erroneamente pensam que ao adotar uma criança estão ajudando ou praticando a caridade... Nesse caso, o melhor é ser voluntário em um orfanato, em abrigos, participar de entidades filantrópicas,Ongs e afins.

Ser mãe ou ser pai implica muito mais que isso... Tem que AMAR!

Um filho natural é fruto do amor entre duas pessoas, mesmo que com o tempo, esse amor se desgaste, mesmo que se separem um dia, no ato da concepção houve uma cumplicidade, uma doação, houve amor. Muitos poderão me dizer que nem sempre é assim, pois existem muitas crianças que são concebidas involuntariamente, sem o desejo dos pais, ou foram frutos de uma aventura sexual. Concordo com a não intencionalidade do ser humano, mas, a criação é sempre de Deus.
Deus nos criou por amor. Nós, somos meros instrumentos para Ele. Algum de nós poderia ter essa capacidade de "gerar" um filho?
Uma vez, no corpo da mãe, o feto se desenvolve de maneira quase que mágica, sendo orquestrado pelo Criador.
Em meu trabalho como orientadora educacional e ainda como psicopedagoga, tenho atendido vários pais de crianças que são filhos do coração. Muitos deixam claro a insegurança e o medo de não estarem"acertando" por que não são os pais biologicos daquela criança. Para eles falta lhes algo. É como se nós, pais naturais,  pelo simples, o fato de passar pelo processo de espera da gravidez e do parto, tivessemos um diploma de pais. Como seu filho é adotivo, eles se sentem sem preparo para lidar com a criança em algumas situações cotidianas.
A minha resposta é sempre a mesma para as inúmeras dúvidas que me apresentam:
- AME SEU FILHO, INCONDICIONALMENTE!
Só através do amor podemos educar, só através de cumplicidade, de companheirismo, do respeito, da ética, da doação e da entrega total.
Minha mãe, ficou viúva aos 27 anos, com 07 (sete) filhos: Geisha, Vinícius, Cícero, Djalma, Ciro e as gêmeas Shirley e Sheila. Minha mãe nunca evitou filhos, seu tempo era outro, antes das pípulas anticoncepcionais. Ao se ver viúva com toda essa prole, ela considerou que teria que dedicar sua vida a eles, e a sua profissão ( professora). Ela só não sabia que ainda seria mãe de mais 3(três) filhos... Isso mesmo, minha mãe teve 10 filhos naturais.
Depois, de viúva, aos 30 anos, ela se casou com meu pai, que tinha 23 anos, e era 7 anos mais novo. Para cada ano que ele era mais novo ela tinha um filho. Ninguém imagina isso nos dias de hoje, não é verdade? Um jovem solteiro de 23 anos se casando com uma viúva, mãe de sete filhos...
Então, nasceram: Eu, o Júnior e o Renato. 

Por que estou contando aqui a história de minha mãe?

Para contar a história do meu pai. Desde o primeiro dia de casado ele assumiu a família com tanto amor, que eu nunca percebi que meus sete irmãos era filhos só da minha mãe. Pelo contrário, ele sempre foi tão dedicado a nós, que muitas vezes a gente disputava o seu colo, o seu abraço, seus cafunés ( meu pai adora, pegar a pontinha do nosso cabelo e ficar enrolando enquanto assiste TV). Sempre contaram a verdade, nunca foi escondido ou camuflado, era o dito, mas, não era o  vivenciado. O que nossos olhos viam era apenas um pai e uma mãe e seus 10 filhos muito amados.  A educação se faz pelo exemplo e no exercício diário. Ele e minha mãe foram guerreiros, criaram e deram boa formação a todos. Sempre priorizaram o estudo e exigiram compromisso e bom desempenho escolar. Todos nós cursamos  universidade, fizemos todos os cursos que nos foram oferecidos e quando olho para o passado vejo a figura de meu pai e minha mãe nos incentivando, nos acolhendo, nos motivando, nos abrigamos. 
Não sei contar quantos livros ganhei de presente de meus pais, assinaturas de revistas e jornais, eles nos incentivavam e oportunizavam  um contato diário com a leitura. (É de uma grande importância colocar os filhos diante ao letramento e em contato com boas leituras. Forma se o hábito de ler. Forma se o leitor crítico.)
Meu pai adotou com amor meus o7 irmãos, e quando é perguntado quantos filhos tem, ele responde 10 filhos, 28 netos e 4 bisnetos. Todos os meus irmãos o chamam de pai e tomam a bençao ao chegar em casa e ao se despedirem com o tradicional beijo na testa.
Eu, por experiência posso afirmar, que quando existe amor, não existe nada e nem ninguém que possa atrapalhar a criação de um laço afetivo consolidado.
Muitos pais querem adotar apenas os bebês, por acreditarem que só assim poderão ter o total amor de seus filhos. Isso não é verdade. Todo ser humano é capaz de reconhecer o amor, o carinho, o afeto e a atenção recebida... quando esta é verdadeira, espontanea e brota do coração.

Olhando através da janela



Certa vez dois homens estavam seriamente doentes, na mesma enfermaria de um grande hospital. O cômodo era bastante pequeno, e nele havia somente uma janela que dava para o mundo. Um dos homens tinha, como parte de seu tratamento, permissão para sentar-se na cama por uma hora durante as tardes (algo que ver com a drenagem de fluído de seus pulmões). Sua cama ficava perto da janela. O outro, contudo, tinha de passar todo o seu tempo deitado de barriga para cima.
Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava perto da janela era colocado em posição sentada, ele passava o tempo descrevendo o que via lá fora. A janela, aparentemente, dava para um parque onde havia um lago. Havia patos e cisnes no lago, e as crianças iam atirar-lhes pão e colocar na água barcos de brinquedo. Jovens namorados caminhavam de mãos dadas entre as árvores. Havia flores, gramados e jogos de bola. E ao fundo, por trás da fileira de árvores, avistava-se o belo contorno dos prédios da cidade.
O homem deitado ouvia o amigo descrever tudo isso, apreciando todos os detalhes. Ouviu sobre como uma criança quase caiu no lago, e sobre como as garotas estavam bonitas em seus vestidos de verão.
As descrições do amigo eram tão perfeitas que quase o faziam sentir o que estava acontecendo lá fora.
Numa bela tarde, ocorreu-lhe um pensamento: por que o homem que ficava perto da janela deveria ter todo o prazer de ver o que estava acontecendo? Por que ele não podia ter essa chance? Sentiu-se envergonhado, mais queria uma mudança. Faria qualquer coisa para ter a visão que o amigo tão bem descrevia.
Numa noite, enquanto olhava para o teto, o outro homem, subitamente, acordou tossindo muito, quase sufocado, procurou o botão que faria a enfermeira vir correndo.
O homem que ouvia as descrições, nada fez, mesmo quando o som de respiração parou.
De manhã a enfermeira encontrou o homem morto, e silenciosamente, levou embora o seu corpo.
Passado o momento de espanto, o homem que ficava deitado perguntou se poderia ser colocado na cama, perto da janela.
Ele foi colocado lá. Aconchegaram-no sob as cobertas e fizeram com que se sentisse bastante confortável.
Quando saíram do quarto ele apoiou-se sobre um cotovelo, com dificuldade, e mesmo sentindo muita dor olhou para fora da janela.
Viu apenas um muro branco que cercava o hospital, mais nada.
A vida é, foi, e sempre será, como quisermos que seja.