quinta-feira, 25 de setembro de 2014

NO DIA EM QUE O GATO FALOU

NO DIA EM QUE O GATO FALOU
(Millôr Fernandes)
          Era uma vez uma dama gentil e senil que tinha um gato siamês. Gato de raça, de bom-tom, de filiação, de ânimo cristão. Lindo gato, gato terno, amigo, pertencente a uma classe quase extinta de antigos deuses egípcios. Este gato só faltava falar.  Manso e inteligente, seu olhar era humano. Mas falar não falava. E sua dona, triste, todo dia passava uma ou duas horas, repetindo sílabas e palavras para ele na esperança de que um dia aquela inteligência que via em seu olhar explodisse em sons compreensivos e claros. Mas, nada!
              A dama gentil e senil era, naturalmente, incapaz de compreender  o fenômeno. Tanto mais que ali mesmo à sua frente, preso a um poleiro de ferro, estava um outro ser, também animal, inferior até ao gato, pois era somente uma pobre ave, mas que falava! Falava mesmo, muito mais do que devia. Um papagaio, que falava pelas tripas do Judas. Curiosa natureza, pensava a mulher, que fazia um gato quase humano, sem fala, e um papagaio cretino mas parlapatão. E quanto mais meditava mais tempo gastava com o gato no colo, tentando métodos, repetindo silabas, redobrando cuidados para ver se conseguia que seu miado virasse fala.
          Exatamente no dia 16 de maio de 1958 foi que teve a ideia genial. Quando a ideia iluminou seu cérebro, veio acompanhada da critica, auto-crítica: “Mas, como não me ocorreu isso antes?” O papagaio viu no brilho do olhar da dona o seu (dele) terrível destino e tentou escapar, mas estava preso.Foi morto, depenado e cozinhado em menos de uma hora. Pois o raciocínio da mulher era lógico e científico: se 25.      desse ao gato o papagaio como alimentação, não era evidente que o     gato começaria a falar? Era? Não era? Veria. O gato, a princípio, não quis comer o companheiro. Temendo ver fracassado o seu experimento científico, a dama gentil e senil procurou forçá-lo. Não conseguindo que o gato comesse o papagaio, bateu-lhe mesmo – horror! – pela primeira vez. Mas o gato se recusou. Duas horas depois, porém, vencido pela fome, aproximou-se do prato e engoliu o papagaio todo. Imediatamente subiu-lhe uma ânsia do estômago, ele olhou para a dona e, enquanto esta chorava de alegria, começou a gritar (num tom meio currupaco, meio miau-miau-miau, mas perfeitamente compreensível):
– Madame, foge pelo amor de Deus! Foge, madame, que o prédio vai cair!
A mulher, tremendo de emoção e alegria, chorando e rindo, pôs-se a gritar por sua vez.
– Vejam, vejam, meu gatinho fala! Milagre! Fala o meu gatinho!
Mas o gato, fugindo ao seu abraço, saltou para a janela e gritou de novo: – Foge, madame, que o prédio vai cair! Madame, foge! – e pulou para a rua.
Nesse momento, com um estrondo monstruoso, o prédio inteiro veio abaixo, sepultando a dama gentil e senil em meio aos seus  escombros.
O gato, escondido melancolicamente num terreno baldio, ficou vendo o tumulto diante do desastre e comentou apenas, com um gato mais pobre que passava: – Veja só que cretina. Passou a vida inteira para fazer eu falar e no momento em que falei, não me prestou a mínima atenção.

MORAL: O mal do artista é não acreditar na própria criação.

4 comentários:

  1. eu achei muito triste a historia porque a obceção da madame gentil e senil
    em fazer o gato falar fez que ela matasse o pobre papagaio e assim conseguindo o que ela queria. ao ver o gato falar nao acreditava no que ele dizia e foi assim que ela deixou o pobre gato solitario.taynara de oliveira soares;7 ano b.

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  2. eu acho que a dama gentil e senil foi muito exigente pois a natureza do gato era
    ser manso e inteligente por outro lado o papagaio era da natureza de ser muito maritaca então cada pessoa tem suas qualidades não importa qual seja temos que aceitar pois nada no mundo e perfeito
    aluna:samara 6 ano c

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  3. aluno:kaua gabriel 6ºano b9 de outubro de 2014 às 17:58

    eu entendi que a dama gentil e senil foi muito exigente pois a natureza do gato é ser manso e a inteligência por lado o papagaio era da natureza de ser muito tagarela então cada pessoa tem suas qualidades não importa qual seja termo que aceite por que nada é perfeito

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  4. Muito legal, eu gostei se a velha não fosse tão dura com o gato talvez ele teria falado antes de comer o papagaio, afinal, ele falou porque ele já falava ou porque ele comeu o papagaio?
    À que seja a velha que foi burra de não dar ouvidos ao pobre gatinho!!
    Eu achei bem feito ela ter morrido.
    Cleilson José Costa Almeida 8° ano B

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